domingo, 23 de agosto de 2015

Partodos 4 - Uma pequena análise do Parkour atual


Pra quem não sabe, partodos é um encontro mais nacional que regional de parkour que acontece em Brasília desde 2012. Eu sou um dos fundadores do evento e produtor do mesmo até então.

O Partodos nasceu de algo já existente, mas que partilhava alguns objetivos em comum: Reunir o máximo de praticantes para treinar, aprender e ensinar, compartilhar experiências, se divertir, fazer novos amigos e se desafiar.

Começando do Começo...



Relações Interpessoais



É nostálgico olhar para trás, onde poucas pessoas se conheciam, mas existia um sentimento. Um anseio por estar envolvido com o máximo de pessoas possíveis e hoje, tantos encontros já se passaram e você já conhece praticamente metade do Brasil, quase não se importa em ir atrás de novos amigos ou estar com desconhecidos. Você já conhece o suficiente e se, por ventura, acabar trocando ideia com mais alguns está tudo bem. 

Talvez um fator que influencie essa "cultura de isolamento" seja o número de participantes que cresce a cada ano. Já não da mais para falar e treinar com todo mundo como nos primeiros anos, então nos restringimos a nossa "Panelinha" de amigos e conhecidos próximos para aproveitar o máximo com eles. 

É um fato que temos poucas oportunidades de treinar com aquele amigo de outro estado e estamos ansiosos pra revê-lo, sugar o máximo dele (ou do grupo de amigos), e acabamos negligenciando outros praticantes que ainda não conhecemos inconsciente ou até conscientemente. Mas não é errado escolher com quem treinar. Você não é obrigado a treinar com todos. Mas é de grande proveito treinar com pessoas diferentes, sempre da para aprender mais.

Nós nos sentimos bem estando ao lado de amigos e conhecidos, mas uma das coisas que me chama atenção, e chega até ser engraçado, é que cada grupo de cada região, mesmo estando entrosado com outros, se mantêm juntos. Ou seja, todos terão praticamente as mesmas experiências. 

Exemplo: o grupo que veio de outro estado, mesmo ao se misturar com outros praticantes, permanece unido (o que também não tem nada de errado). Se você treina com seu amigo durante o ano todo, você pode muito bem deixa-lo de lado por algumas horas e ir ter suas experiências desapegadas da sua “cultura/região”. Você absorvendo a cultura de outras regiões e seu amigo fazendo o mesmo do outro lado, a troca de conhecimento na volta para casa será muito maior, acredite! Cada um terá vivências únicas e o aprendizado em dobro.

Se não conseguiu fazer isso durante o treino, que tal na hora do famoso bomba ? Agora elefante burguer, ou aquele açaí mágico? Sente-se na outra ponta, com gente que você não conhece, e descubra tudo sobre o parkour na região dessas pessoas. Como são os treinos, o que eles fazem pra ficarem fortes, etc.




- Qual o limite do parkour? 

"Não vamos colocar um limite, vamos deixar o limite aberto, e quando atingirmos o limite, dobramos o limite."

Agora o bixo pega.



Quem é da época que assistia Valts 103 e ficava impressionado? Alguns daqueles movimentos ainda são impressionantes pra mim, acredite. Acontece que de 2007 pra cá, os valts se multiplicaram assustadoramente, bem como suas variações e dificuldade. No fim das contas tudo acaba em giro.

Mas o destaque desse tópico é a expansão do limite ou a falta dele. Outros esportes e atividades conseguem se definir e se limitar a um padrão de movimentos/técnicas mas o parkour é livre, ilimitado, infinito. E isso não é ruim, pelo contrario. A cada dia surge uma nova técnica, uma nova forma de fazer a antiga e outra forma de passar o mesmo obstáculo. Isso faz do parkour incrível, pois você nunca vai fazer tudo, sempre terá algum desafio, é impossível zerar o parkour!

Dentro desse avanço vemos nos vídeos, presenciamos em alguns treinos e no partodos, movimentos absurdos e complicados, alguns com mais risco que outros (mas claro que quem o faz está 100% confiante que consegue, ou pelo menos deveria). Dividindo o parkour em dois extremos, ou você se destaca, faz os movimentos impressionantes e entra pro clube, ou você faz o básico, mesmo que com excelência e em alguns momentos com grandes níveis de dificuldade, mas fica de lado com os iniciantes ou os espectadores.  Por que atualmente, seja no youtube ou no treino, o que da "audiência" são os movimentos da moda, com estilo, e não mais com simplicidade e funcionalidade.

Pra mim, se há como evoluir, vamos buscar evoluir. Mas também sou à favor da moderação, do foco, estabilidade e segurança. Como assim? Simples, você já deve ter ouvido por ai: "Tudo posso, mas nem tudo me convêm”. Antes de mandar sua bomb se pergunte o porquê de mandar, qual o objetivo e funcionalidade isso terá, avalie o que você já tem (Suas habilidades) e se elas estão refinadas ao ponto de você introduzir no seu repertório algo novo, que fará você por algum tempo perder o foco no básico, e reflita sobre as vantagens e as desvantagens e se os riscos valerão a pena. Pescoço não se vende na farmácia, meu pai sempre fala. 





"Go hard or go home" - Vá com tudo ou vá pra casa. 


"voa pra casa bochecha, eu trabalho sozinho" 


Ainda falando da divisão "Sou foda x Ainda não manjo dos paranauês". As vezes eu me pergunto se fazer uma fila pra mandar giros ou um flow que acaba em giro, visando a estética e a inovação, faz parte do progresso ou voltamos no tempo, para época "Le parkour freestyle". É divertido sim, é prazeroso por estarmos cercados de amigos, mas o que aconteceu com a fila pra fazer um kong? O kong simples mesmo sem ser double ou com precisão? E aquela precisão que o objetivo é não fazer barulho ou cravar apenas. Ou então por quê a fila não interage com os espectadores (Os iniciantes ou os que ainda não fazem o tal movimento) ?  Nessas situações uma frase que ninguém disse paira no ar: "Ou manda alguma coisa ou me assiste fazendo." 


[pausa pra digerir]




Diga Sim ao treino Guiado




Cara, que resistência que os praticantes com mais tempo de treino tem com oficinas/treino guiado. Fico de cara! Passamos horas planejando algo que vá conseguir envolver iniciantes, intermediários e avançados de modo que todos sejam desafiados em seu nível, mas os avançados emperram e vão pra fila do mortal. Eu penso que esses caras já treinaram parkour de mais na vida e até já zeraram tudo que tinha pra fazer. 

A cena mais engraçada desse partodos foi quando refleti isso e falei com um praticante: "Vocês (Grupo específico) passaram ontem o dia no pico do cachorro, o pico mais animal [sacou? rs] pra se movimentar e ficaram girando, hoje cedo fomos pra 308 Sul, onde a movimentação também é infinita e vocês ficaram girando, agora que estamos no areião do parque da cidade, com uma estrutura própria pra vocês alucinarem nos giros, vocês estão ai sentados? Serio?" Ele riu mas teve de concordar, foram burros. 

Treino guiado nem sempre é chato, depende do objetivo e no partodos o objetivo é tanto ensinar quanto se divertir. Então eu encorajo você, seja lá qual seu nível técnico, sempre que puder participar de uma aula/treino guiado/oficina, participe! Mesmo quando é chata, você sai de lá com algo a mais, ou mais forte e/ou com mais conhecimento técnico.




Tradicional, Educativo ou Jam ?



Hoje já temos no mundo inteiro eventos distintos para atrair e agradar públicos diferentes.

Na minha visão, pelas experiências que já tive, eu os divido nessas três categorias: Encontros tradicionais, são  os que mantem a essência dos primeiros encontros, treinos livres e guiados, muita troca de experiência em conversas e geralmente nenhum grande atrativo, é apenas um encontro com o intuito de por em prática os objetivos citados no início.
Os educativos são em grande parte voltados para iniciantes. Oficinas, workshop, palestras, cursos, etc. Mas que também conseguem integrar praticantes já experientes ensinando-lhes algo novo ou dando maior dificuldade ao básico. E as Jams são eventos mais festivos, mais livres talvez, onde geralmente tem algo a mais, como uma superestrutura e/ou musicas animadas tocando. 
Pode acontecer de encontrarmos essas três características em um só evento, como é o caso do ParTodos, e fazemos assim para que cada um se sinta confortável para aproveitar o evento da maneira que mais lhe agrada tendo a oportunidade de experimentar outra esfera.

Ou talvez eu esteja exagerando e os eventos se dividem apenas em Bom e Ruim.




Recapitulando os pontos:
  1. Relações interpessoais
  2. Qual o limite do Parkour?
  3. Vá com tudo ou vá pra casa
  4. Diga sim ao treino guiado
  5. Tradicional, educativo ou jam?

Esses foram alguns pontos que estive refletindo antes, durante e depois do partodos, mas que engloba o parkour de modo geral e não só encontro. 



Mas e você? Ja havia parado pra pensar nessas coisas? O que acha disso tudo?
Exponha sua opinião, seja ela contrária ou a favor e acrescente algum ponto que você observou no Partodos ou em outro encontro/treino.






3 comentários:

  1. Pra mim movimentos como dos Valts 103 são mais que suficientes. Não estou atrás de praticar ginástica olímpica. Se os brasileiros diferenciassem Parkour de Freerunning como todos os outros traceurs fazem, a gente tinha menos confusões.

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  2. Cara até que enfim alguém que me entende!
    To com lágrimas nos olhos kkk
    Bom, o q tenho reparado, q me incomoda muuuito particularmente, é como os iniciantes tem sido tratados, tipo, o pessoal mais experiente tem a mania de chegar chegando, não tem uma introdução, uma apresentação do cara q ta chegando, não se para mais pra ensinar, fico louco quando pergunto pra um iniciante se sabe mandar uma precisão e ele diz q não, ou mais ou menos, mas sabe virar mortal!
    Sacas?
    Tipo, não ensina-se mais o básico, a base fundamental, não se vê mais a passagem de experiência, é só ver "os cara treinar" e depois aprender mortal, fica aqui meu comentário, espero q seja de alerta pra galera.

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